Desde o início do mês, milhares de focos de incêndio foram registrados nos estados do Norte do Brasil, estendendo-se pelo Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chegando à tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o país vive a maior onda de queimadas dos últimos cinco anos.
Com efeito, o Programa Queimadas do instituto, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, registrou 71.497 focos de incêndio entre os dias 1 de janeiro e 18 de agosto deste ano - número é 82% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 39.194 focos de incêndio.
O fogo tem início, na maioria dos casos, a partir das queimadas, uma prática comum que visa abrir espaço na mata para fins agropecuários, em geral, para criar rebanhos bovinos. Esta é técnica mais barata de limpar uma área - e não é necessariamente ruim, se for feita de forma controlada e em lugares permitidos. Infelizmente, no Brasil, a maioria das queimadas é realizada em áreas protegidas que não poderiam ser convertidas ao agronegócio.
Em épocas de seca, em que o índice pluviométrico da região é muito baixo, as queimadas podem fugir do controle e se transformar em incêndios florestais, atingindo proporções alarmantes - como é o caso de regiões na Amazônia em que não chove há mais de três meses.
Consequências urbanas
Segundo dados de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 75% das emissões de CO2 do Brasil são oriundos de desmatamento e queimadas. Para produzir açúcar e a celulose que fazem parte de sua estrutura, árvores capturam carbono; quando são queimadas, liberam esse carbono em gases causadores do efeito estufa. Atualmente, o Brasil figura entre os maiores emissores de gás carbônico, o principal causador do efeito estufa, do mundo.
Uma importante correlação que aproxima o problema dos incêndios da realidade urbana está em que queimadas ligadas ao desmatamento de áreas florestais respondem por 19% do aquecimento global promovido pela ação do homem desde a era pré-industrial (antes de 1760), informa o jornal Nexo.
Embora gravíssimas, estas consequências ambientais são, em geral, invisíveis aos olhos urbanos. Um acontecimento inesperado, porém, tornou-as visíveis. Na segunda-feira, dia 19 de agosto, correntes de ar carregaram a fumaça dos incêndios da região norte e centro-oeste do país para o céu da capital paulista; por volta das 15h, o dia virou noite em São Paulo. O efeito foi, principalmente, meteorológico, mas diversas fontes apontaram também que a fumaça vinda de queimadas pode ter auxiliado na formação de nuvens densas e negras.
Mas, para além da escuridão de São Paulo, amplamente divulgada nas mídias, a real amplitude do problema é difícil de definir. Por certo, envolve não apenas as emissões de gases de efeito estufa e o aquecimento global - que afeta, em última instância, todas as cidades do mundo - mas também, evidentemente, a destruição do maior bioma brasileiro, uma unidade biológica que corresponde a cerca de 40% do território nacional.